quarta-feira, 18 de julho de 2018

Resenha da peça Avalon – A história do Rei Artur interpretada pela Cia London!

Salve, medievalistas!

Na próxima sexta-feira, 20 de julho, estreia no Teatro União Cultural a peça Avalon, uma produção independente da Cia London.


Assistimos à peça sexta-feita passada, na pré-estreia... Quer saber o que achamos? Dá uma olhada na nossa resenha:

Com mais de vinte personagens e quase três horas de duração, divididas em dois atos, a peça Avalon faz uma releitura de um dos temas mais interpretados e revisitados da literatura e do cinema: o Ciclo Arturiano, muito apreciado por quem curte medievalismo e histórias de cavalaria.


Não é a primeira peça que assistimos da Cia London, e reconhecemos alguns atores de outros espetáculos. Em Avalon, entre várias boas interpretações, nos chamaram atenção a qualidade das atuações de Rafael Mallagutti (Merlin), Nina Vettá (Morgause) e especialmente dos atores mirins Mariana Gimenes e Anthony Caio (Jovem Morgana e Jovem Merlin, respectivamente).

Alguns momentos da peça contaram com trilha sonora executada ao vivo por um trio de violão, violino e percussão (músicos Octávio Amado, Nicholas C. Guerreiro e Dominic Mendonza), o que agrega muito ao espetáculo. Não que a trilha sonora em playback seja ruim, mas enquanto assistíamos dava vontade de ver a peça inteira com a trilha ao vivo. Além disso, houve partes cantadas pelos próprios personagens, poucas, mas muito bem colocadas.


Gostamos muito também do trio de personagens “espirituais” – a Donzela, a Mãe e a Anciã (Bella Santos, Helena Magon e Elizabeth Clini) – que na maior parte de seu tempo de palco servem como enigmáticas narradoras, falando diretamente ao público e quase servindo como consciências dos personagens.


O roteiro de Rafal Malaguti, que também assina a direção da peça e interpreta o personagem Merlin, faz um amálgama interessante entre algumas adaptações modernas do Ciclo Arturiano, especialmente a saga As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley (adaptada para uma mini-série de 3 episódios pela TNT em 2001), mas reconhecemos também ao longo da peça elementos que talvez tenham sido inspirados em algumas interpretações menos conhecidas, como a mini-série Merlin, de 2 episódios, produzida em 1998 pela NBC.


O que a peça e todas essas interpretações modernas do mito arturiano tem em comum é a luta entre a antiga e a nova religião como pano de fundo. Essa luta pode te lembrar muito o cenário de Game of Thrones, mas antes que George R. Martin criasse os conflitos de Westeros, o ciclo arturiano em algumas de suas interpretações mais recentes já trabalhava com essa dualidade: de um lado, o ancestral culto pagão voltado à Deusa, de outro, o Cristianismo, que por volta do século V ganhava popularidade na Bretanha, tendo como resultado (spoiler) um sincretismo religioso, com a fé cristã incorporando muitos elementos dos antigos cultos pagãos (o que, aliás, não é mito e sim história).


Essa questão é bem trabalhada pela peça, com muitos diálogos interessantes entre os personagens Merlin (Rafael Mallagutti) e o arcebispo Columba (Renan Rezende), que aliás também fornecem parte do alívio cômico do texto em suas discussões. Ambos aconselham e influenciam os reis Uther e depois Artur, que por sua vez procuram conciliar as duas vertentes religiosas de seus súditos.


Nossa única crítica ao roteiro fica por conta do personagem Artur, que no começo da narrativa é jovem e bobo (servindo inclusive como o maior alívio cômico da história) e se torna um rei falho e amargurado pelos próprios erros, e achamos que a transição entre esses dois momentos é pouco ou nada desenvolvida. Enquanto o Merlin da peça é retratado desde sua juventude até seus últimos dias, passando por diferentes fases de consciência, Artur vai do cômico ao trágico sem passar por um momento em que possamos de fato gerar identificação com o personagem.

O maior mérito do roteiro, por outro lado, é trazer uma história com essa temática em linguagem acessível e com uma boa produção e montagem. O mencionado embate entre paganismo e cristianismo, um dos temas centrais, também suscita uma saudável discussão sobre tolerância religiosa e diversidade que, embora colocada no contexto de personagens medievais, pode ser facilmente transportada para nosso cotidiano.


Para medievalistas inveterados e entusiastas de fantasia medieval, fica nossa recomendação não apenas de apreciar o espetáculo como de prestigiar nossa cena teatral paulista. A peça estreia oficialmente nesta sexta, 20 de julho, e a temporada vai até 14 de setembro, sempre às sextas-feiras, às 21h, no Teatro União Cultural – R. Mario Amaral, 209.

Mais informações:


Ingressos disponíveis em:



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