sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Resenha e Resultados do II Torneio Medieval Anno Domini, um marco para o Combate Medieval Histórico no Brasil

Salve, medievalistas, guerreiros e amantes do combate medieval!

No último final de semana, dias 13 e 14 de agosto, rolou um evento histórico e importantíssimo para o medievalismo no Brasil: a primeira competição oficial de HMB (o esporte de Combate Medieval Histórico).


Esta foi a segunda edição do torneio, mas foi a primeira oficialmente reconhecida pela Associação Internacional de HMB, de forma que é um marco para o medievalismo no nosso país. Mais de 20 atletas com armaduras completas, vindos de vários estados, competiram em três modalidades.


Esta segunda edição do Torneio aconteceu na cidade de Nova Lima, a pouco mais de 20 km de Belo Horizonte, num espaço cedido pela Cervejaria Taberna do Vale.

Área da feira medieval que aconteceu dentro do Torneio - Foto por Tereza Niederauer
Para quem ainda não conhece, HMB é a sigla para Historical Medieval Battle, ou Combate Medieval Histórico. Trata-se de um esporte de contato já bem difundido na Europa, mas que está começando a crescer agora aqui no Brasil. Nele são usadas armas e armaduras da Idade Média, especialmente adaptadas para a competição (sem corte, obviamente). E assim como qualquer outro esporte, o HMB possui suas regras, clubes e competições.

Foto por Jardel Silva
Foto por Jardel Silva
Foto por Jardel Silva
Foto por Jardel Silva
Foto por Jardel Silva
A edição do Torneio Medieval Anno Domini do ano passado foi a primeira competição de nível nacional de HMB e também de HEMA (um outro esporte que utiliza armas medievais e que também está crescendo no Brasil), mas não foi uma competição oficial de HMB, pois ainda não era reconhecida pela HMBIA – Historical Medieval Battle International Association, ou Associação Internacional de Combate Medieval Histórico.

Este ano, a posição de Knight Marshal (árbitro chefe) foi ocupada pelo argentino Nicolas Ariel Garcia. Os Field Marshals (juízes) foram Flavio Pinho e João Eduardo Uberti.

Nicolas Ariel Garcia - Foto por Bruno Scaramussa
Com a presença de Nicolas, que já tem experiência em outras competições oficiais da HMBIA, o Torneio Medieval Anno Domini passou a integrar a lista de eventos internacionais da associação, ou seja, passou a ser um evento oficial de HMB, e com isso as vitórias e pontos dos atletas na competição são computados no ranking internacional.

Seminário de arbitragem ministrado por Nicolas, o Knight Marshal - Foto por Bruno Scaramussa
Tivemos a presença de 7 grupos brasileiros de HMB: Lâminas das Gerais (Belo Horizonte, MG), Liga Medieval Guarda das Carrancas (Rio de Janeiro, RJ), Sociedade da Rosa de Ferro (Brasília, DF), SCAM (Florianópolis, SC), Lobos de Guerra (São Paulo, SP), APEA Ars Proeliaris (São Paulo, SP) e Amigos da Montanha (Campinas, SP).



Vamos então ao que mais interessa:

Os resultados do Torneio deste ano


Houve competições de quatro modalidades dentro do HMB: Arma de Haste Masculino, Triathlon Masculino, Triathlon Feminino e Buhurt Masculino.

Duelo de Arma de Haste (Polearm) – Masculino


1º Gregório Ribeiro da Silva (SCAM – Florianópolis/SC)
2º Danniel Lopes Chagas (SCAM – Florianópolis/SC)
3º Gustavo Fernando Fröhlich (Sociedade da Rosa de Ferro – Brasília/DF)

Foto por Jardel Silva
Duelo de Arma de Haste - Foto por Jardel Silva
Nesta modalidade são usadas armas de haste de duas mãos tais como alabardas, machados, glaives e similares.

Duelo Triathlon – Masculino


1º Rodrigo Alvarez Esteves (APA Ars Proeliaris – São Paulo/SP)
2º Anderson Tsukiyama (SCAM – Florianópolis/SC)
3º Filipe Canabrava (Sociedade da Rosa de Ferro – Brasília/DF)

No âmbito do HMB, o triatholn é um duelo individual com três etapas: espada longa, espada + broquel e espada + escudo.

O primeiro colocado, Rodrigo, foi também o campeão do triathlon no Torneio de 2015, sendo portando o primeiro bicampeão brasileiro da modalidade.

Filipe, Rodrigo e Anderson, os três primeiros colocados no Duelo Triathlon Masculino - Foto por Bruno Scaramussa

Duelo Triathlon Masculino - Foto por Tereza Niederauer
Duelo Triathlon Masculino - Foto por Tereza Niederauer
Foto por Tereza Niederauer

Duelo Triathlon – Feminino


1º Mirian De França Santos (SCAM – Florianópolis/SC)
2º Julia Soares Dias (SCAM – Florianópolis/SC)
3º Luciana Pena (Lâminas das Gerais – Belo Horizonte/MG)

Foto por Jardel Silva
Duelo Triathlon Feminino - Foto por Jardel Silva
Duelo Triathlon Feminino - Foto por Jardel Silva

Buhurt 5x5 – Masculino


1º SCAM (Florianópolis/SC)
2º Sociedade da Rosa de Ferro II (Brasília/DF)
3º Sociedade da Rosa de Ferro I (Brasília/DF)
.
O Buhurt é uma modalidade de batalha entre duas equipes ou times. Pode acontecer com variados tamanhos de equipe (3x3, 5x5, 10x10, 16x16, 21x21). O formato de 5x5 foi escolhido pensando no tamanho das delegações das equipes presentes.

Foto por Jardel Silva
Foto por Bruno Scaramussa
O grupo Sociedade da Rosa De Ferro possuía um número de atletas suficiente para formar dois times de 5, por isso a organização do evento pediu que eles se dividissem, apenas para o Buhurt, em Rosa de Ferro I e Rosa de Ferro II.

Adicionalmente, houve também uma competição de arquearia:

Tiro com arco


1º Merlim Miriane Malacoski (SCAM – Florianópolis/SC)
2º Julian Mattos Do Amaral (Liga Medieval Guarda das Carrancas – Rio de Janeiro/RJ)
3º Lauro Oliveira Santana (Liga Medieval Guarda das Carrancas – Rio de Janeiro/RJ)

O terceiro colocado deste ano, Lauro, foi o primeiro colocado na competição de 2015, e o segundo colocado, Julian, foi o terceiro. Ou seja, ambos já computam duas medalhas na história da arquearia no torneio!

Foto por Sheilla Uberti
Foto por Sheilla Uberti
A primeira colocada, Merlim, pratica arquearia no grupo SCAM há três anos. É interessante observar que o SCAM fabrica todos os equipamentos utilizados por seus atletas, incluindo os arcos, e no caso das flechas, cada arqueiro do grupo confecciona as suas próprias.

Merlim Miriane Malacoski, primeira colocada na arquearia

Conclusões sobre o evento


Os dois grandes responsáveis pelo acontecimento do torneio são Luciana Pena e Flávio Lopes (ambos atletas membros do Lâminas das Gerais). A dupla está de parabéns pela corajosa iniciativa de promover um evento tão pioneiro, que não apenas está sendo um grande veículo de divulgação do HMB no Brasil como também proporcionou um grande encontro com diversos grupos e mais de vinte atletas.

Luciana Pena - Foto por Bruno Scaramussa
Flávio Lopes - Foto por Bruno Scaramussa
As lutas de guerreiros com armaduras completas são algo impressionante de se ver, mesmo para quem não é medievalista. E se os duelos singulares já são assim, o buhurt então é um espetáculo à parte. Uma parte da emoção que sentimos vendo batalhas épicas no cinema pode ser sentida enquanto assistimos dois times se chocando na arena, com o som do metal das armas se chocando e os atletas caindo um por um, até que sobrem apenas os vencedores.

Foto por Jardel Silva
Foto por Jardel Silva
Ver algo assim acontecendo de perto no Brasil e sensacional, e é algo que seria impensável há poucos anos. Como dissemos no nosso último artigo sobre o Anno Domini, embora do HMB seja uma prática relativamente bem difundida na Europa, no Brasil ainda está engatinhando. Como a Idade Média não faz parte da história brasileira, os medievalistas ainda são um grupo bem diminuto no país, e os poucos entusiastas encontram muitas dificuldades para praticar o HMB (ou outras modalidades relacionadas ao medievalismo), a começar pela pouca disponibilidade e preço alto dos equipamentos necessários.

Nesse sentido, cada um dos vinte e tantos atletas que participou do torneio esse ano tem um grande mérito, pelo preparo, treinamento e investimento de tempo e recursos numa atividade nova e ainda sem muito espaço no nosso país. A Sociedade da Rosa De Ferro, por exemplo, trouxe a maior das delegações, composta de nada menos do que 11 atletas.

Foto por Bruno Scaramussa
O grupo SCAM, por sua vez, foi um grande destaque em termos de competição, levando sete medalhas, incluindo o primeiro lugar em três das quatro modalidades do HMB, além do primeiro lugar na arquearia.

Grupo SCAM - Foto por Bruno Scaramussa
Infelizmente, a quantidade de espectadores foi bem reduzida. Vários fatores podem ter colaborado para isso – o fato de domingo ter sido dia dos pais, o feriado de segunda-feira em MG, o fato do torneio acontecer em plena época de olimpíadas e até uma divulgação não tão eficiente por parte da organização – mas mesmo assim, a impressão que fica é que o público medievalista mineiro não soube aproveitar a singularidade do evento que acontecia em suas terras.

Pode ser que as próximas edições ocorram em outros estados. Vamos esperar que recebam um prestígio maior do público e que a prática do HMB como esporte cresça cada vez mais!


Agradecimentos especiais a Bruno Scaramussa, Tereza NiederauerJardel Silva e Sheilla Uberti, que cederam a maior parte das fotos utilizadas neste artigo.

Veja também aqui no Cena Medieval:



I Torneio Medieval Anno Domini (2015), artigo no qual explicamos as diferenças entre HEMA e HMB e como aconteceria a primeira edição

II Torneio Medieval Anno Domini (2016), artigo no qual contamos nossas expectativas sobre a edição deste ano

8 comentários:

  1. O campeonato parece ter sido incrível de fato, mas não compareci esse ano porque sempre priorizo o aspecto cultural e imersivo dos eventos que compareço. A localização da edição anterior foi um espetáculo a parte em Lavras Novas, em uma cidade minúscula que acolheu muito bem os viajantes de terras distantes e de terras próximas também.
    De qualquer forma, continuarei acompanhando o torneio e anseio por detalhes da terceira edição.

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  2. Primeiramente elogiar mais uma vez pela iniciativa e eloquência do artigo. Depois, deixar registrado meus parabéns pelas vitórias dos amigos pessoais, Julian e Lauro, ambos do RJ, q mais uma vez brilharam no evento! Uma pena mesmo a falta de público. ..Não sei o q está havendo em MG, mas, coincidência ou não, um evento q ocorreria em Betim, o já conhecido e elogiado Medieval BH, foi cancelado pelo fato de não ter alcançado um número adequado de pessoas interessadas(pressupondo que seria natural que os habitantes do proprio estado prestigiassem um evento local...). Uma pena mesmo.Mas ver as mais variadas atividades medievais crescerem e se espalharem pelo país já é uma alegria enorme! Quem sabe ano que vem role em SP ou ate mesmo no RJ!! Abraços fraternos a todos!

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  3. Primeiramente elogiar mais uma vez pela iniciativa e eloquência do artigo. Depois, deixar registrado meus parabéns pelas vitórias dos amigos pessoais, Julian e Lauro, ambos do RJ, q mais uma vez brilharam no evento! Uma pena mesmo a falta de público. ..Não sei o q está havendo em MG, mas, coincidência ou não, um evento q ocorreria em Betim, o já conhecido e elogiado Medieval BH, foi cancelado pelo fato de não ter alcançado um número adequado de pessoas interessadas(pressupondo que seria natural que os habitantes do proprio estado prestigiassem um evento local...). Uma pena mesmo.Mas ver as mais variadas atividades medievais crescerem e se espalharem pelo país já é uma alegria enorme! Quem sabe ano que vem role em SP ou ate mesmo no RJ!! Abraços fraternos a todos!

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  4. Olá
    Algum dia vou neste evento! Tão incrível!

    Te indiquei na TAG: Indicação Prêmio Dardos 2016

    http://cantaremverso.blogspot.com.br/

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    1. Olá, Evelyn! Obrigado por indicar o Cena. Vou indicar outros 15 e marcarei o Cantar em Verso na publicação ;)

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  5. olá eu queria saber se a galera vai fantasiada nos eventos....pq queria ir de viking com meu amigo

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    1. Sim, na maioria dos eventos a galera vai bem caracterizada! Dê uma olhada nessa resenha aqui:

      http://www.cenamedieval.com.br/2016/06/resenha-do-viii-jantar-medieval-taberna-folk.html

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  6. Infelizmente, tudo colaborou para que tivesse pouquíssimos espectadores, em minas gerais, a cena medieval, não é tão forte, quando resolvi ir, eu praticamente tive que arrastar minha família para vir (embora, eles tenham adorado ver as lutas) e tentei também chamar alguns amigos, porem o preço do ingresso + a localização, que estava em um local, de não tão fácil acesso ao publico, ajudou ao evento não estar cheio. Acho triste, pois gostei muito do torneio e gostaria de ver ele acontecendo de novo por aqui, mas depois da pouca quantidade de pessoas, duvido que isso vá ocorrer. Parabéns pelo seu artigo, muito bem escrito.

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