domingo, 2 de julho de 2017

Resenha do III Old Norse: um acampamento viking no solstício de inverno!

Hail, medievalistas, vikings e recriacionistas!

Faz exatamente uma semana que aconteceu a aguardada terceira edição Old Norse, cuja proposta é proporcionar aos convidados uma grande imersão na cultura viking.


Pela primeira vez pudemos participar do evento, que consistiu num acampamento de um dia e uma noite na cidade de Guapimirim/RJ. A temática da edição desse ano foi Yule, o festival nórdico do solstício de inverno – veja como foi!

No meu post pré-evento (veja aqui), eu comentei que o Old Norse é uma experiência pioneira que pode crescer bastante, e a interação das pessoas nessa semana que se passou após o evento apenas confirma essa perspectiva. Tenho visto apenas comentários positivos sobre o evento, e nas palavras de todos um sentimento de "quero mais".


Com efeito, apenas um dia de evento não foi suficiente pra curtir o acampamento e interagir com toda a galera.


Quem chegava ao acampamento recebia uma fita colorida, que poderia ser escolhida entre cinco cores diferentes. A fita deveria ser amarrada na Cruz Solar (um símbolo presente em diversas crenças pagãs), como parte da celebração do Yule, que é a festividade germânica de solstício de inverno, e temática dessa edição do Old Norse. Mas haveria ainda outro significado para as cores, que os convidados descobririam apenas mais tarde.








A comida, farta e muito boa. Frutas, pães, queijo, bebidas não alcoólicas e carne, tudo incluído no valor do ingresso. A única coisa paga à parte eram as bebidas alcoólicas. Inclusive, havia no mínimo uns três produtores cariocas de hidromel, com suas garrafas à disposição.





Durante o dia, as atividades incluíram, como previsto, arco-e-flecha, arremesso de machado e outros jogos, além de muita música, proporcionada alternadamente pelo duo Olam Ein Sof e por alguns dos membros da banda Tailten, que puxaram uma session bem animada de música irlandesa, com participação de outros músicos presentes e do público que dançou em volta.



Olam Ein Sof

Session com membros da Talten e outros músicos

E a atividade que chamou mais atenção durante o dia: as lutas. Como já mencionei anteriormente, o recriacionismo histórico é a prática de recriar certos aspectos de um dado evento ou período histórico, e um dos aspectos mais valorizados pelos recriacionistas da era viking é justamente o combate.


Rolaram muitas lutas 1x1, tanto com armas de madeira quanto com armas de ferro (sem corte, obviamente)

A popularização do recriacionismo viking no Brasil está relacionada com o próprio crescimento do meio medieval, de forma que sempre foi comum, na maioria dos eventos do meio medieval em diversos lugares do país, vermos apresentações de luta com armas e equipamentos da Era Viking. Contudo, essa edição do Old Norse foi a primeira oportunidade em que membros de diversos grupos vikings brasileiros se reunissem em um único local, permitindo algo inédito para nós até então: um embate entre duas Shield Walls, cada uma com oito guerreiros!

Mais do que uma bela imagem, a mescla de cores na parede de escudos represente a união e interação de diversos grupos de recriacionismo viking no Brasil



Embora não sejam propriamente uma competição, as batalhas têm regras e juízes pra manter a ordem

A Shield Wall, ou Parede de Escudos, é uma formação de batalha que foi muito usada por diversas culturas durante a Antiguidade e Idade Média. No caso, as paredes de escudos do Old Norse foram bem heterogêneas, contando com membros de diferentes grupos (como é bacana ver tantas cores misturadas numa mesma parede!), e as lutas em si foram uma experiência divertidíssima, tanto pra quem participou quanto pra quem assistiu.





Ao cair da noite, o público foi conduzido em massa para uma outra área, com tendas vikings históricas e fogueiras, onde aconteceriam as atividades noturnas. A organização tomou o cuidado de separar essa área noturna de imersão da área de camping comum, onde os convidados puderam montar suas barracas modernas.

Para não quebrar a imersão, as barracas modernas ficaram numa área isolada do resto do evento

A noite provavelmente foi a parte mais legal do evento. Novamente houve muita música, dança e interação da galera em volta de cada fogueira.

Após o pôr-do-sol, uma mudança radical no visual e o começo da segunda parte do evento

Ficar no acampamento à noite sem luz elétrica, apenas com a luz do fogo, já é por si só uma coisa muito louca (pra quem tá acostumado com nossa rotina urbana de luz artificial e internet toda noite). Somando a galera caracterizada e algumas tendas vikings de modelo histórico em volta, cria-se um ambiente incrível de imersão e, de certa forma, fuga da realidade.





Nesse ponto, é importante comentar também: é um evento pra quem curte acampamento. O público dos eventos medievais pode estar meio acostumado com eventos em sítios bem estruturados ou até lugares fechados, com muitos banheiros e bastante iluminação elétrica, e nesse aspecto o Old Norse é um evento bem fora da curva. Até havia banheiros, mas poucos, e a luz elétrica era quase nenhuma. E vejam bem: isso não é uma crítica, pelo contrário, essa circunstância apenas colaborou para o clima imersivo do evento. Mas como eu disse, é pra quem curte acampamento.



Música ao vivo é legal... mas música folk ao vivo com dança em volta da fogueira é memorával

Em uma das clareiras, rolou uma encenação com três personagens: dois homens e sua invocação da entidade divina Harbard, que traz ensidamentos e mensagens enigmáticas. Os três papeis foram interpretados por membros do kindred Asas de Pedra.

Harbard é um personagem da Edda Poética, uma coleção de poemas em nórdico antigo que é uma das principais fontes que temos sobre a mitologia nórdica. Existem interpretações diferentes sobre qual seria a real identidade do personagem que nos textos se identifica como Harbard, havendo quem o considere como Loki e quem o considere como o próprio Odin.



Lembram das fitinhas que mencionei antes, recebidas por cada convidado que entrava no evento, para serem amarradas à Cruz Solar? Harbard revelou aos presentes que cada uma das cinco cores disponíveis representava uma runa diferente, e a escolha da cor pela pessoa indicava qual runa deveria reger seu destino no período que se iniciava, já que o Yule é a celebração de uma transição, com o fim de um cíclo e início de outro.

Harbard, a entidade divina que atendeu ao ritual

As cinco runas e suas respectivas cores foram: jera (amarelo), mannaz (verde), perthro (branco), wunjo (vermelho) e ingwaz (azul).

Para completar o rito, a Cruz Solar e suas dezenas de fitas foram queimadas.


Após após essa encenação, foram servidas novas porções de comida, incluindo ótimas sopas, muito bem vindas no frio da noite (ok haha, não dá pra chamar uma noite no clima carioca de "fria", mas as sopas foram muito bem vindas mesmo assim). E a interação em volta das fogueiras seguiu de forma livre pelo resto da noite, até que os convidados, um por um, se recolheram às suas barracas.


No dia seguinte, voltando pra realidade, a organização serviu um bom café da manhã, que marcava o encerramento do evento.







Os visitantes dos últimos momentos do evento

Uma dura volta para a realidade, deixando na maioria a impressão de que a experiência foi intensa e mais curta do que o desejado.

O evento foi bem planejado e organizado, atendendo exatamente ao que se propôs. A imersão rolou para todos os que se permitiram, o que foi praticamente todo mundo. O volume de convidados (cerca de 200 pessoas) foi pequeno se comparado a outros eventos do meio, mas ótimo, pois permitiu aos organizadores manter a situação controlada e ganhar experiência para quem sabe aumentar o tamanho nas próximas edições, além de estar compatível com um nicho mais específico dentro do medievalismo, que é o recriacionismo viking.

E no que diz respeito aos recriacionistas, os organizadores do evento têm mais um mérito, que é a própria iniciativa de reunir essa galera num único lugar. Com sorte, a empolgação causada nos presentes será um incentivo para que o estudo da Era Viking continue firme e forte, com mais interação e troca de experiências entre os grupos do Brasil.

Para o ano que vem, quem sabe o evento não dure um pouco mais, com duas noites de acampamento? Aos poucos pode se aproximar de modelos como o do Wolin (na Polônia), que neste ano de 2017 durará 3 dias (duas noites).

Sendo como for, certamente estaremos na próxima edição do Old Norse, para a qual já estamos ansiosos desde agora.


Se você foi uma dessas duzentas pessoas que esteve presente no evento, deixe aqui sua opinião! E se você curte cultura viking e não teve essa oportunidade, não deixe de participar na próxima!


Veja também aqui no Cena Medieval:




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