domingo, 29 de janeiro de 2017

Janeiro/2017 – Hidromel Cervantes

Salve, medievalistas e apreciadores de hidromel!

Nossa coluna de hidroméis começou em julho de 2016 desde então teve uma repercussão bem bacana. Firmamos a proposta de experimentar e falar de um hidromel brasileiro por mês, sempre acompanhando de um prato de culinária medieval, de modo que abordamos nesse ano que passou meia dúzia de rótulos nacionais.


Para 2017, nosso plano é continuar com essa proposta, de modo que ao final do ano teremos experimentado mais doze novos rótulos de produção nacional. E pra começar essa nova lista, experimentamos o Cervantes, de Maringá/PR!

Ainda não conhece a nossa coluna de hidroméis? Veja aqui a lista com todos rótulos que já provamos dessa ótima produção nacional!

O Cervantes começou a ser produzido em 2008. A ideia do produtor era fazer cerveja, mas entre uma pesquisa e outra sobre bebidas fermentadas, surgiu a ideia do hidromel e ele decidiu experimentar. Ele conta ainda que essa primeira experiência foi de apenas algumas garrafas, pra ver se saía alguma coisa, e hoje faz lotes de 100 litros, ou seja, um salto considerável.


Uma das características que mais vale comentários em relação ao Cervantes é que, diferentemente da maioria dos hidromeleiros, ele não utiliza leveduras industrializadas, mas sim leveduras selvagens, ou seja, culturas que não foram selecionadas em laboratório (embora ele brinque dizendo que, após tanto tempo, essas leveduras selvagens que ele utiliza já estão “domesticadas”).

Ele conta ainda que antes da ideia do hidromel surgir, ele já fazia licores e vinhos de frutas como jabuticaba, laranja e abacaxi, então acabou aproveitando a levedura selvagem dessas frutas e a utiliza até hoje na produção do hidromel.


Já o nome é uma homenagem direta ao grande escritor Miguel de Cervantes, cuja obra mais famosa é Dom Quixote. Uma vez que Cervantes dá um passo da Idade Média em direção aos tempos modernos, a ideia do produtor é sair um pouco do estereótipo viking (que, com efeito, é muito explorado entre os produtores de hidromel).

O Cervantes é produzido em duas variedades. Ambas são classificadas pelo produtor como suaves, mas uma é envelhecida em sassafrás e a outra em amburana, dois tipos de madeira que, como veremos adiante, influenciam bastante no sabor da bebida.

A experiência

Para acompanhar o Cervantes, preparamos uma receita que já estava em nossas mentes há bastante tempo (mais precisamente desde julho do ano passado): Tart de Bry, ou torta de queijo, uma receita inglesa do século XIV.


Experimentamos essa maravilha pela primeira vez no Banquete Medieval Schola Militum (veja aqui a resenha do evento!) e finalmente tomamos coragem para reproduzi-la. E aqui deixamos um agradecimento especial ao Tarcísio Lakatos, o cabeça do Schola e grande cozinheiro do banquete, que gentilmente compartilhou a receita e nos deu algumas dicas!


Como comentamos na resenha supra citada, a torta era um conceito muito apreciado pelos medievais, pois é uma comida que tem tudo dentro de uma casca, facilitando a condimentação e o consumo (pode ser comida com as mãos).

Preparamos também Fruays, um pudim de maçã e pão, que é também uma receia inglesa, mas do século XV.


E para completar a composição, colocamos na mesa também uma porção de nozes inglesas, que harmonizaram muito bem tanto com a torta quanto com os hidroméis.


Começamos com a versão envelhecida em sassafrás (ponta preta). A garrafa estava bem carbonatada, formando uma boa quantidade de espuma, mas o produtor nos informou que isto foi uma particularidade desta safra, que foi feita no inverno, deixando as leveduras latentes (o que provavelmente causou numa refermentação depois que a garrafa já estava arrolhada).


O aroma já chama bastante atenção, e a impressão é confirmada quando sentimos o sabor, que é bem forte, devido tanto ao envelhecimento em madeiras características quanto à alta graduação alcoólica (14,5%).


A seguir, servimos a versão envelhecida em amburana (ponta dourada), que não apresentou carbonatação, pois segundo o produtor a garrafa veio de uma safra já bem mais madura. Os outros comentários, contudo, se aplicam da mesma forma: o aroma e o sabor são bem fortes.



Ambas apresentam cor dourada e boa clarificação, além de uma doçura bem pronunciada, a despeito da elevada graduação alcoólica.


As características amadeiradas se fazem muito presentes nas duas variações, sendo certamente o hidromel mais amadeirado que já experimentamos. Provando estes hidroméis, percebemos o quanto a madeira dos recipientes de maturação pode influenciar no aroma e no sabor do produto final. Embora sejam ambas doces e alcoolicamente fortes (tendo exatamente a mesma graduação), elas são muito diferentes entre si. É muito difícil descrever essa diferença, de modo que recomendamos a cada apreciador experimentar ambas para perceber as peculiaridades.


A harmonização com a torta de queijo e as nozes foi realmente excelente – fica aqui a recomendação para quem adquirir uma garrafa do Cervantes!

Dados Técnicos

O Cervantes é produzido com mel silvestre de produção regional (ou seja, mel proveniente de diversas flores, e não de uma específica). A fermentação dura quatro meses e a maturação varia entre 8 e 12 meses.

A levedura utilizada, como mencionamos acima, é uma levedura selvagem, ou seja, uma levedura que não foi selecionada/industrializada em laboratório.


A graduação alcoólica é de 14,5% para as duas versões que provamos.

O valor da garrafa padrão (750ml) é de R$ 40,00, mas o produtor também disponibiliza garrafas menores (270ml) por 20,00.

Página do Cervantes no facebook:


E você, já experimentou o Cervantes? Deixe sua opinião nos comentários!


Veja também os outros rótulos que já experimentamos nesta coluna:

Julho/2016 – Bee Gold, de Sorocaba/SP

Agosto/2016 – Velho Oeste, de Xanxerê/SC

Setembro/2016 – Alfheim, de Cachoeirinha/RS

Outubro/2016 – Ferroada, de Contagem/MG

Novembro/2016 – Hahn, de Dois Irmãos/RS

Dezembro/2016 – Triple Horn, de São Paulo/SP

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