quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Fevereiro/2019 – Hidromel Old Pony

Fotos por Renata Saito

Salve, medievalistas e apreciadores de hidromel!

Chegamos ao nosso segundo post de 2019 sobre hidromel, o segundo dessa nossa nova temporada de resenhas!


E mais uma vez vamos falar de um velho conhecido: o Old Pony, de Mogi-Guaçu/SP, que não apenas já foi objeto de resenha em 2017 como também é um dos principais apoiadores do Cena Medieval, como vocês pode ver pelos nossos banners. Para essa resenha contamos mais uma vez com a ajuda de nosso amigo Tarcício Lakatos, do grupo Schola Militum.


O Old Pony já havia sido resenhado por nós em fevereiro de 2017 (veja aqui). Naquele mês, havíamos experimentado as variandes Dwarfic (hidromel tradicional seco) e Elfic (hidromel tradicional suave), e a resenha foi feita em parceria com nossos amigos do canal Cozinha dos Tronos, então além do post aqui no site houve também um video no canal, em que experimentamos os hidroméis ao vivo e ensinamos uma receita de torta medieval (veja aqui o video).


De lá pra cá bastante coisa mudou, a marca Old Pony cresceu, se espalhou pelo mercado, passou a ser presença obrigatória em diversos eventos e restaurantes temáticos, e agora está lançando novas variedades de hidromel para compor sua linha de produtos. Todas essas novas variedades serão analisadas por nós aqui no Cena Medieval, e hoje para começar vamos falar do Ent (hidromel com jabuticaba) e do Oakenshield (hidromel envelhecido em carvalho).


Todo o conceito e a identidade visual da linha Old Pony são inspirados na obra do mestre Tolkien!

Os Ents, no universo mitológico do Senhor dos Anéis, são pastores de árvores, um dos povos mais antigos da Terra Média, criados para proteger as florestas. Um nome bem bacana, portanto, para um hidromel com jabuticaba.


Oakenshield, por sua vez, é o título ostentado por Thorin, o anão líder da comitiva que, junto com Bilbo e Gandalf, adentrou a Montanha Solitária para derrotar o dragão Smaug, na obra O Hobbit. O personagem recebeu esse título por ter usado, numa grande batalha, um tronco de carvalho como escudo, e mais uma vez o nome cai muito bem para um hidromel que tem como diferencial seu aroma e sabor amadeirado.



A experiência

Como explicamos brevemente mês passado na nossa resenha do hidromel Velho Mundo (veja aqui), os medievais costumavam harmonizar comidas e bebidas por notas inversas, ou seja, uma sobremesa provavelmente seria acompanhada de um vinho seco. Além disso, a harmonização para os medievais era um questão menos taxativa do que para a culinária moderna, pois jamais uma suposta regra de harmonização poderia se sobrepor ao gosto pessoal de cada pessoal.

De toda forma, procurando proporcionar uma imersão na experiência medieval, procuramos fazer mais uma vez essa harmonização por complementariedade. Dessa forma, sabendo que as variedades de hidromel que pretendíamos experimentar esse mês são mais alcoólicas e secas, pesquisamos e preparamos, com a grande ajuda de nosso amigo Tarcísio Lakatos, um prato doce:



Menya D’Angels, uma receita catalã (século XIV) registrada no Libre de Sent Sovi. Trata-se basicamente de um manjar que poderia ser servido como uma sobremesa, feito à base de queijo adoçado com mel ou açúcar e flavorizado com água de rosas ou água de flor de laranjeira. No nosso caso, usamos mel e água de rosas.

Começamos pelo Ent, e estávamos curiosos pra conferir essa tal combinação de hidromel com jabuticaba. O aroma é intenso e pronunciado, mas bem diferente do que estamos acostumados. No paladar o sabor da jabuticaba predomina, e apenas em segundo plano sentimos o mel.


A cor no copo é belíssima, um vermelho vivo e translúcido, quase exótico – ótima apresentação.

O graduação alcoólica é bem alta (14%), mais do que a maioria dos vinhos, mas você não sente o álcool batendo forte. Como ele não é seco, você não sente o álcool no paladar, mas sim no peito, pois a bebida desce esquentando tudo.

Na receita do manjar usamos mel silvestre e água de rosas, ambos ingredientes com notas florais bem presentes em seus aromas, que combinaram muito bem com esse hidromel.

Tecnicamente o Ent é um melomel. Na nomenclatura de hidromeis, chamamos de meloméis os hidroméis fermentados com frutas (geralmente morangos, amoras ou coisas do gênero – as chamadas berries em inglês), ao passo que misturas com outros tipos de fruta podem receber nomes mais específicos como pyment (hidromel com uva) e cyzer (hidromel com maçã). No entanto, esses nomes são muito antigos, e a jabuticaba, sendo uma fruta bem brasileira, é um ingrediente inusitado para essas misturas. Nesse ínterim, sendo a jabuticaba mais próxima de uma uva do que de um morango, talvez não fosse absurdo chamar essa combinação de hidromel e jabuticaba de "um pyment de jabuticaba". Mas isso são detalhes: o importante é que essa mistura é original, criativa e dá um ar super brasileiro ao hidromel.

A seguir, experimentamos o Oakenshield, que no aroma é um pouco mais neutro, discreto, lembrando levemente o cheiro de whisky.


No copo ele é dourado e talvez um pouco mais translúcido que as demais variedades da marca, lembrando quase a cor de um vinho branco – novamente uma ótima apresentação.

No paladar ele é bem seco, ideal para ser apreciado num dia frio. O aroma e sabor providos pelo carvalho são perceptíveis, mas mais sutis (diríamos até mais equilibrados) do que outros hidroméis envelhecidos em carvalho que já experimentamos. Depois de um momento na boca a acidez fica um pouco mais evidente. Essa acidez aliada à quase ausência de doçura permite uma apreciação melhor dos demais aromas.


Gostamos muito das duas variedades, são ambas refinadas e super bem apresentadas. Mas o Ent definitivamente chama mais atenção pelo fator exótico.


A combinação com o manjar funcionou super bem no dois casos, mas especialmente no caso do Ent, por conta das notas florais presentes tanto no hidromel quanto no manjar. Deixamos aqui a recomendação pra quem quiser tentar um pouco dessa imersão na culinária medieval.

Dados do produtor

Segundo o produtor, é utilizado mel predominantemente de laranjeira, produzido na cidade de Mogi-Guaçu e região.


A graduação alcoólica das variedades que experimentamos é 13% (Oakenshield) e 14% (Ent).

Site oficial do Old Pony:


Em breve faremos resenhas das demais variedades que a marca está lançando! Ainda tem mais hidroméis especiais e braggots pra serem provados, hehehe...


E você, já experimentou alguma das variedades do Old Pony? Nos conte o que achou!


Veja também os outros rótulos que já experimentamos nesta coluna:


Julho/2016 – Bee Gold, de Sorocaba/SP

Agosto/2016 – Velho Oeste, de Xanxerê/SC

Setembro/2016 – Alfheim, de Cachoeirinha/RS

Outubro/2016 – Ferroada, de Contagem/MG

Novembro/2016 – Hahn, de Dois Irmãos/RS

Dezembro/2016 – Triple Horn, de São Paulo/SP

Janeiro/2017 – Cervantes, de Maringá/PR

Fevereiro/2017 – OldPony, de Mogi-Guaçu/SP

Março/2017 – Corvo Caolho, de São Caetano do Sul/SP

Abril/2017 – Philip Mead, de Hortolândia/SP

Maio/2017 – Yggdrasill, de Curitiba/PR

Junho/2017 – Lord, de São Paulo/SP

Julho/2017 – Skald, do Rio de Janeiro/RJ

Agosto/2017 – Sea of Velho Mundo, do Rio de Janeiro/RJ

Setembro/2017 – Zamith, de Queluz/SP

Outubro/2017 – Gjallarhorn, de Mogi das Cruzes/SP

Novembro/2017 – Kalèvala, de Niterói/RJ

Dezembro/2017 – Drakkar, de Maringá/PR

Janeiro/2019 – Sea of Velho Mundo, do Rio de Janeiro/RJ (novas variedades)

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